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4 soluções para a Engenharia de Alimentos #2 - Grade Curricular

Atualizado: 17 de mar. de 2018

Escrito por Dayani Ribeiro

No post #1 da série 4 SOLUÇÕES PARA A ENGENHARIA DE ALIMENTOS, falamos um pouco sobre o impacto que a Evasão de Alunos tem sobre o curso e sobre os estudantes e como esse problema pode ser resolvido – ou atenuado. Agora, dando sequência à discussão, vamos tentar entender a estrutura da grade curricular da Engenharia de Alimentos da UFRJ. Já se perguntou alguma vez quais são os objetivos de cada área do currículo? E você saberia dizer como nossa grade nos diferencia de outros engenheiros no mercado? Como você pode aproveitar melhor as disciplinas e direcionar sua formação para as áreas que mais te interessam?




Para responder a essas perguntas, vamos analisar o currículo por partes.


Ciclo básico. Na UFRJ, até o quarto período os alunos dos 4 cursos da Escola de Química (Engenharia de Alimentos, Engenharia de Bioprocessos, Engenharia Química e Química Industrial) cursam as mesmas disciplinas. Nesse ciclo básico, o objetivo é apresentar aos alunos os conhecimentos básicos na formação de engenharia: matemática (incluindo cálculos e álgebra linear), física e química (aqui, a base em química é um pouco mais profunda que em outras engenharias). Além dessas, o ciclo básico apresenta duas disciplinas introdutórias de engenharia de processos químicos e bioquímicos: Introdução aos Cálculos de Processos e Introdução aos Processos Químicos e Bioquímicos.


É inegável que a base de exatas dos profissionais formados pela UFRJ é muito forte, visto o alto nível de exigência das disciplinas básicas. Como tudo na vida, isso tem seus pontos positivos e negativos. Por um lado, o ensino puxado desenvolve o raciocínio lógico, a capacidade analítica e estimula o aprendizado autodidata. Assim, engenheiros da UFRJ apresentam maior facilidade de aprendizado de qualquer tema, inclusive aqueles não referentes à sua área de formação, quando comparados com a média do mercado. E essa é uma característica muito reconhecida pelos recrutadores, pelo menos aqueles com quem conversei (e foram bastantes).

Em contrapartida, o tempo e o desgaste físico e emocional despendido neste processo prejudicam a participação em atividades extracurriculares e a busca por conhecimentos complementares à formação profissional. Os alunos que optam por desenvolver experiências diversificadas durante a faculdade muitas vezes acabam por se atrasar ou apresentar baixos rendimentos, o que é um ponto bem negativo.


Um outro problema na grade está na generalização das disciplinas introdutórias. Por tratar de todo tipo de processo químico e bioquímico, os processos da indústria de alimentos acabam ficando muito diluídos nessas cadeiras, o que prejudica a imersão do calouro de engenharia de alimentos no mundo da profissão. E, como este será o único contato mais profissional que eles vão ter com a área até chegarem ao ciclo profissional, o desânimo com o curso é quase inevitável, o que frequentemente culmina na evasão do aluno.


Ciclo profissional. No ciclo profissional, os cursos da Escola de Química ainda compartilharão muitas disciplinas, mas é nessa fase que eles começam a se diferenciar e é aqui que o aluno irá conhecer cada um dos 5 temas principais da indústria de alimentos (ciência de alimentos, tecnologia de alimentos, engenharia de alimentos, segurança e qualidade de alimentos e gestão).


Uma das maiores críticas dos discentes em relação à grade é a presença de apenas 2 disciplinas obrigatórias de tecnologia de alimentos, que são: Tecnologia de Alimentos I (alimentos de origem vegetal) e Tecnologia de Alimentos 2 (alimentos de origem animal), ambas apenas teóricas. Eu mesma já critiquei muito este fato. Muitos acreditam que isto faz com que tenhamos um conhecimento superficial da tecnologia do processo. Há, inclusive, quem defenda que haja uma disciplina para cada tipo de tecnologia (cereais, carnes e pescados, laticíneos, óleos e gorduras e etc.).


No entanto, se olharmos a grade com a mente aberta, veremos que o foco do curso está nas disciplinas de engenharia e nos bioprocessos. Ampliando ainda mais o olhar, podemos perceber também que a relação muito próxima com os outros 3 cursos nos confere um conhecimento diversificado. Essas coisas, somadas à base de exatas citada anteriormente, podem – e devem – ser utilizadas como a identidade do engenheiro de alimentos formado pela UFRJ. Elas nos diferenciam como os engenheiros de alimentos com maior desenvoltura nos projetos de engenharia e na biotecnologia, bem como nos tornam mais versáteis, inclusive para trabalhar fora da indústria de alimentos, como no ramo farmacêutico, de cosméticos, de biocombustíveis e etc. Ou seja, nós abrimos mão do foco em tecnologia para focar em engenharia e isso nos destaca dos demais porque a maioria das outras universidades não são assim tão fortes na engenharia de processos.


Hoje em dia, talvez uma das maiores falhas da Escola de Química na formação desses profissionais seja o excesso de disciplinas teóricas e a baixíssima presença de disciplinas práticas, em especial no ciclo profissional. Para se ter uma ideia, do quinto ao décimo período, temos apenas 2 disciplinas práticas e 5 teórico-práticas. Isto soma 225 horas experimentais, de um total de 1650 horas de disciplinas obrigatórias nessa etapa do currículo. Ou seja, apenas 13,6% do ciclo profissional é de ensino prático.


Além disso, se por um lado o contato com outros cursos é bom porque diversifica a formação, por outro, a presença nula ou quase nula de docentes engenheiros de alimentos nas disciplinas do departamento de Engenharia Química faz com que as disciplinas de engenharia raramente tenham foco na área de alimentos, o que dificulta a compreensão da aplicação do conteúdo no dia-a-dia desta indústria. Trabalhando com números novamente, dos 921 professores efetivos da Escola de Química (excluindo-se os substitutos e o professor Carlos Augusto G. Perlingeiro, falecido em 2017), apenas 2 docentes são engenheiros de alimentos. Isto corresponde a pouco mais de 2% de engenheiros de alimentos no corpo docente da EQ, o que acaba por gerar muitas crises de identidade nos alunos deste curso.


Disciplinas eletivas. Para aqueles que desejam se aprofundar em temas pouco abordados no currículo obrigatório, existe a opção de disciplinas eletivas. No entanto, há alguns problemas relacionados às eletivas na Escola de Química: há poucas opções de eletivas específicas para alimentos, as disciplinas ofertadas não se comunicam entre si, o que pode fazer com que o conhecimento fique desconexo e a alta exigência nas outras disciplinas faz com que os alunos busquem as cadeiras mais fáceis, em vez de buscar as que mais vão agregar em sua formação. Porém, a oferta e a qualidade das eletivas tem aumentado nos últimos anos e já é possível sair da UFRJ com uma boa base em quase qualquer área da indústria de alimentos.

Concluindo

Com tudo o que foi exposto aqui, vimos que a grade da UFRJ tem seus problemas e vários pontos que precisam ser melhorados. No entanto, conhecendo as características do curso, é possível atenuar muitos desses e dar à sua formação a ênfase desejada. Além disso entender o funcionamento e os focos do currículo, irá te ajudar a conhecer melhor seu próprio perfil e o que te torna especial e diferenciado no mercado por ser aluno da UFRJ.


Para melhor aproveitar as disciplinas e dar robustez à sua formação e ao seu currículo, sugerimos sempre a participação em atividades extracurriculares porque elas complementam muito o conhecimento teórico obtido na faculdade e trazem experiências que não são possíveis de viver em sala de aula. Talvez isso possa significar demorar um pouco mais pra se formar, mas vale a pena. Além disso, participe de congressos, leia notícias, procure livros, vídeos e troque experiências com colegas de profissão. Acredite, tudo isso será muito mais benéfico profissionalmente que seu 10 em termodinâmica e o ajudará a cobrir as falhas na grade.


Agora, falando de experiências pessoais, no fim das contas, eu vi que estudar na EQ foi uma boa escolha e as vantagens e oportunidades são enormes quando se tem no currículo uma formação de peso, como as da UFRJ. O ponto chave, que vai definir se você teve uma boa formação e vai se destacar ou não, é a maneira como você lida com as vantagens e desvantagens do curso. Todas as universidades apresentarão forças e fraquezas. Cabe a nós reconhecer as nossas para elevar as forças, reduzir as fraquezas, fazer um bom trabalho e vender nossa melhor imagem ao mercado de trabalho.


¹ Dado obtido da contagem dos professores listados na página de docentes do site da Escola de Química, disponível em: http://www.eq.ufrj.br/pessoal/docentes/. Acesso em 06/03/2018.




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